O Diretor de Novos Negócios da Elera Renováveis faz uma análise integrada do cenário mundial

O Brasil é o país mais inspirador do mundo em termos de transição energética, tanto por seu histórico quanto por seu potencial”. A afirmação é do Diretor de Novos Negócios da Elera, Gabriel Moreira Pinto. “Diferentemente da maior parte das nações, o Brasil soube diversificar sua matriz e priorizar recursos limpos. Desde a década de 50, expandiu a construção em hidroelétricas e a partir da década de 70 fomentou o etanol e usinas nucleares. Nas últimas duas décadas, vem escalando com sucesso o biodiesel, a biomassa de resíduos agrícolas e florestais, os parques eólicos e solares centralizados; e, mais recentemente, difundindo a geração solar distribuída, o biogás e o biometano.”

Essa estratégia energética tornou o Brasil líder global em dois setores: eletricidade e biocombustíveis. É o país de grande porte com maior percentual de energia limpa, variando entre 80 e 90% da produção dependendo do ano, contra  cerca de 30% da média global. Ao mesmo tempo, é o país com maior percentual de etanol na gasolina (27%) e o 2º maior de biodiesel no diesel (14%-15%), enquanto muitos países (inclusive na Europa) limitam essas misturas a 5-10%. Com isso, não só é um exemplo a ser seguido, como também tem a oportunidade de contribuir exportando energia de baixo carbono por meio de hidrogênio, amônia, metanol, diesel renovável (HVO) e combustível sustentável de aviação (SAF). Outra rota de ainda maior valor agregado é a manufatura de produtos de baixo carbono, como fertilizantes verdes para a agricultura doméstica além do ferro e aço verdes para exportação.

Gabriel lembra que o governo lançou recentemente o Plano de Transição Ecológica, incluindo criação de títulos verdes e incentivos à inovação, o programa Energias da Amazônia, para substituir o consumo do diesel na região e o Programa Nova Indústria (incluindo pilar de industrialização a partir de energia verde). Em paralelo, o Congresso discute projetos de lei que podem levar a um protagonismo ainda maior do Brasil, tais como o mercado regulado de carbono,  o marco legal do Hidrogênio Verde, os planos Combustível do Futuro e  PATEN (que busca canalizar recursos de créditos tributários e precatórios em investimentos em transição energética).

Nesse contexto, Gabriel destaca que no curto prazo as principais oportunidades do setor elétrico estão na construção dos pipelines de grandes usinas de geração solar e eólica (inclusive parques híbridos) e de geração distribuída solar na modalidade compartilhada (inclusive usinas flutuantes, sobre espelhos d’água), assim como no uso de baterias, tanto como recurso distribuído na Amazônia quanto como recurso centralizado para otimizar o Sistema Interligado Nacional (evitando assim despacho de termoelétricas e cortes na produção solar, eólica e hídrica).

No setor energético de forma mais ampla, Gabriel vislumbra a escalada das usinas de biometano (tanto nos aterros que ainda não o exploram, quanto a partir dos resíduos da cana e pecuária); o aumento da demanda por biodiesel e etanol em vista das novas exigências legais sob discussão (misturas de até 25% e 35%, respectivamente); a escalada do etanol de segunda geração (a partir do bagaço da cana); a modernização da iluminação pública nas centenas de municípios que ainda usam lâmpadas de vapor de sódio e mercúrio e não fazem uso da tecnologia de  dimerização; a substituição de frotas de veículos de grande rodagem por elétricos (como ônibus urbanos, caminhões de pequeno porte e carros de aplicativo), a eletrificação de processos industriais (principalmente vapor e calor) e a canalização de recursos para P&D e projetos pilotos de novas tecnologias.

A médio e longo prazo, outras avenidas de crescimento são os investimentos em plantas em escala industrial de hidrogênio de baixo carbono, HVO e SAF, incluindo a coleta e aproveitamento de resíduos pulverizados (como óleo de cozinha usado, palha de cana e dejetos animais); na aquisição de caminhões pesados movidos a derivados de hidrogênio de baixo carbono em substituição ao diesel; na disseminação mais ampla de veículos elétricos e em aplicações mais diversificadas para baterias (inclusive em geração distribuída); e na produção de energia eólica em campos marítimos (off-shore).

Diante de tantas oportunidades de crescimento, é importante que os setores público e privado trabalhem de forma coordenada para assegurar que a nossa transição energética seja equitativa e inclusiva, que a nossa contribuição verde seja aceita de forma justa pelas regulações/certificações internacionais e que a nossa abundância de recursos se converta em competitividade no plano internacional.